By JOÃO SAMPAIO - Itaqui/RS

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Licença peço senhores...


 
PARA UM ÍNDIO

Peço licença senhores
O assunto é triste demais
Relatar sem iniciais
... Isso cabe aos payadores
Sem dar nem pedir favores
Para hastearem a verdade
Pois ao pintar a realidade
No altar de algum galpão
Se abre todo o coração
Para entrar na eternidade.

Nos anais xucros da História
Há de ficar meu pensamento
Cheio de luz dos momentos
Imperecíveis de glória
Retraçando a trajetória
Do passado e do presente
Por isso eu canto reverente
Neste galpão enfumaçado
O velho chão colorado
E as coisas da minha gente!

Neste rincão onde estou
Sob o teto dos pinhais
Sinto eflúvios ancestrais
De um tempo que não passou
Hordas do meu tetravô
Como pedindo um retruco
Estampidos de trabucos
Com ameríndia coragem
Fugindo da vasalagem
De gringos e mamelucos.

Que será que sentes tu?
Nessas festanças burlescas
Palhaçadas gauchescas
De gauchescos xirus
Igual a bando de ÑANDÚS
Correndo de alma convulsa
O coração da terra pulsa
Nossos valores indianos
E esses fiascos CETEGEANOS
Hão de causar-te repulsa!!!

*Tema de JOÃO SAMPAIO & NOEL GUARANY musicado por EDILBERTO BERGAMO


"Um grande artista é um grande homem numa grande criança."
VICTOR HUGO.

40 MARCAS CAMPEIRAS DO PAÍS DA GAUCHADA

LANÇAMENTO :
NOVA COLETÂNEA DA USA/DISCOS COM OBRAS DE JOÃO SAMPAIO
Músicas, Poemas & Contos Crioulos Rimados


O poeta João Sampaio, gestor de tantas e tão fecundas produções (já ultrapassou a significativa marca de mais de mil obras gravadas) é realmente um dos mais férteis disseminadores culturais da Pátria Gaúcha.

Além de vários livros e CD’s autorais agora está chegando no mercado fonográfico uma nova coletânea de sua obra, grande parte inédita até então.

Trata-se do CD duplo 40 MARCAS CAMPEIRAS DO PAÍS DA GAUCHADA lançamento da gravadora USA/DISCOS que em breve estará disponível em todas as lojas do ramo, principalmente nas grandes redes de supermercado NACIONAL & BIG.

O CD 01 QUERÊNCIA III, além de regravações de clássicos como ENTRANDO NO BORORÉ ao vivo (com a famosa dupla Oswaldir & Carlos Magrão), BICA MEU GALO (com José Cláudio Machado), GINETE & PEALADOR (com Jorge Guedes), PESCADOR (com Aníbal Sampayo & Jorge Guedes), TOURO PINTADO (com João Luiz Corrêa ao vivo) tem ainda canções inéditas interpretadas por Érlon Péricles, João Quintana Vieira & Grupo Parceria, Juliano Moreno, Edson Backes, Xirú Missioneiro, José Pedro da Rosa Lima, Pedro Motta (recentemente falecido), Joãozinho Missioneiro, Luis Cardoso, Mano Lima e o jovem Victor Salgueiro promissora revelação dos festivais.


Já no CD 02 de poemas DE TOROS... POTROS Y HOMBRES, além da costumeira e festejada competência de João Sampaio em escrever sobre qualquer temática que se refira ao cosmo e ao macro cosmo humano em qualquer parte do mundo mais uma vez o poeta itaquiense inova e surpreende, registrando fonograficamente por vez primeira quase uma dezena de contos crioulos rimados interpretados por ele mesmo e por irmãos espirituais como Pedro Júnior da Fontoura, Mano Lima, José Cláudio Machado, João Luiz Corrêa, Gentil Félix Da Silva Neto, Caray Guedes.

Também participam desse CD 02 recitando Rodrigo Bauer, Jorge Guedes, Xirú Missioneiro, Nélio Lopes & Rubem Paz.

Além de uma participação especial do grande chargista Santiago, essa coletânea tem a apresentação do Dr. Afif Simões Neto (Juiz de Direito e cronista filho do grande poeta Afif Simões) e depoimentos sobre o autor e sua vasta obra assinados por gente do porte artístico e humano do Sérgio Faraco (o maior contista vivo do Brasil), Rodrigo Bauer, Clemar Dias, Juremir Machado da Silva, Lisandro Amaral, Landro Oviedo, João de Almeida Neto, Luiz Marenco, Iberê Athayde Teixeira, Martim César Gonçalves, Pedro Júnior da Fontoura, Juarez Machado de Farias, Oracy Dornelles, Paulo César Limas, José Renê Rossi, Érlon Péricles, César Oliveira, Aníbal Sampayo, Zeno Cardoso Nunes, Antônio Augusto Fagundes, Cândido Adalberto Brasil e Amaury Beltrão de Castro.


(Marca da Estância Querência - De João Sampaio - após una yerra)

"Os que encontram significados perversos nas coisas belas,são corruptos sem serem agradáveis. E isso é um defeito."
OSCAR WILDE.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

CAIQUE DE SONHOS...

Como eu queria
Tranplantar a minha mágoa
Pra uma humilde poça d'agua
... Onde a lua vem se apear.
Bombeio longe
E nos meus sonhos supremos
Vejo um caique sem remos
No rio desse teu olhar...

Eu canto e sonho
Com um jeito de menino
Que embretou o seu destino
Nalgum potreiro da infância.
Por isso às vezes
Minha alma bugra entra em cio
E vira canção de rio
Sonorizando à distância!

COMO ESTRELA PIRAGUEIRA
VOGANDO POR RIOS TRISTONHOS
VAI UMA CANÇÃO BALSEIRA
NO CAIQUE DOS TEUS SONHOS!!

Sou rio tranquilo
Estrada...Caminhos.Rastros
Do lume eterno dos astros
Na quincha da madrugada.
Isco os meus sonhos
No clarão do amanhecer
E jamais hei de correr
Atrás de uma estrela apagada!

Por isso,minha linda
Quando a noite cai em mim
Se acende lá no confim
Uma nova estrela a brilhar.
E o rio que corre
Nos teus olhos...Ave matreira
Se transforma em cachoeira
E faz o caique virar...
....................................

* Tema de rio de JOÃO SAMPAIO,musicado e gravado por JORGE GUEDES. Gravado também como poema por PEDRO JÚNIOR DA FONTOURA.


"Os homens envelhecem,mas não melhoram. O que é verdadeiro na arte é verdadeiro na vida."
OSCAR WILDE.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Desvios CTGianos...


PRA FAZER PÁTRIA DE NOVO
(Diego Müller & João Sampaio) 

Trago um sonido disperso
E um crioulo resplendor,
Nasci gaucho e payador
No galpão grande do verso...
A pampa é o meu universo,
Meu brasão a liberdade,
Mantenho pura a identidade
E carrego fundo no miolo
Tudo que um avô crioulo
Me deixou de eternidade!

Por isso tenho no canto
Laço, flecha e arcabuz,
Remansos de salmo e luz,
Canção guerreira e acalanto...
Contra o modismo me levanto,
Aponto desvios cetegianos
Que circenses e profanos
Inventam decretos tenebrosos
Com movimentos mentirosos
Que ofendem os brios pampeanos! 

Assim enfrento sereno
Os mercenários da cultura
Que se acham de grande altura
Mas na verdade são pequenos,
Jujos ruins passam por buenos
Pra grande massa povoeira,
Roubam pesquisas inteiras
E assinam com o próprio nome...
São abigeatários com fome
E corvos da arte campeira!

Pátria é este chão onde estou,
Minha vida é a realidade
Com a mesma intensidade
Que eu herdei daquele avô...
Meu canto se enraizou
Como um palanque na memória
Sem brilho de lata, ou glória
De falsos tchês fantasiados
E cantores alienados
Cuspindo na nossa História!!!


O meu canto é flecha e alma,
Espelho de terra e de povo...
De pé no estribo e lança afiada
Pra fazer pátria de novo!!!

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A imaterialidade da coisa

(Tau Golin - jornalista e historiador)

 
Algo assustador vem ocorrendo gradativamente no Rio Grande do Sul. Um movimento de pressão política e cultural está em vias de subverter completamente o princípio do patrimônio imaterial. A primeira cena dessa burla ocorreu no gabinete do prefeito José Fortunati, quando foi apresentado o processo para “tombar o tradicionalismo e suas manifestações como Patrimônio Imaterial”, conforme notícia do Conselho Municipal de Cultura de Porto Alegre. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) investe-se de elemento dessa aberração.
Por óbvio, se poderia considerar “patrimônio imaterial” manifestações culturais, mas não a “entidade” que as promove. Considerar o tradicionalismo, que é uma sociedade privada, organizada na sociedade civil, como “patrimônio imaterial” seria a mesma coisa que reconhecer o Grêmio ou o Internacional como únicas manifestações genuínas e autênticas do futebol. Certamente, se um clube sumir, isso não afetará a existência do esporte.
O tradicionalismo é um movimento cívico-cultural organizado em rede, de forma associativa, e de caráter de massa, articulado pela indústria cultural e diversos interesses comerciais, políticos etc., que, além de milhares de posturas sinceras, especulam com hábitos, costumes e elementos da tradição. Não existe imaterialidade no tradicionalismo. Duvidosamente, a imaterialidade poderia ser encontrada em algumas manifestações utilizadas pelo movimento, entretanto reinterpretadas, agregadas por sentidos contemporâneos, sem sustentação metodológica. Portanto, ainda assim, de forçosa “imaterialidade”.
A seleção, a reinterpretação, a reorganização, e o novo sentido agregado, adequado aos interesses do movimento, retiram a sua “imaterialidade”. O motivo: não é mais autêntico; foi tradicionalizada.
Desde os anos 1940, o tradicionalismo vem privatizando uma série de manifestações culturais, hábitos e costumes rio-grandenses. Muitos existiam isolados em regiões remotas. Da tradição foram retirados e reelaborados em uma engrenagem de rede. Um eficiente marketing e práticas de adestramento comportamental encarregaram-se de “educar” os contingentes como se pertencessem a todos os grupos humanos. E o que é pior: como se o RS tivesse um único gentílico formatador gauchesco.
Praticamente todas as manifestações adotadas pelo tradicionalismo já existiam antes do seu aparecimento como entidade privada. Se o tradicionalismo, por sua vez, desaparecer, as realmente importantes continuarão existindo. Patrimônio imaterial é o mate (legado indígena), a culinária, determinadas músicas e danças regionais etc., e não o tradicionalismo.
Com o sucesso de se transformar em “patrimônio imaterial”, o tradicionalismo chegou ao extremo de sua usurpação da riqueza cultural regional. Ele se converte em “único”, “legítimo” portador dos eventos da identidade. Ele passou a ser o próprio fenômeno. Parece evidente que esta nova expropriação não resiste à História e ao contrato republicano da sociedade contemporânea. A imanência tradicionalista o conduziu à crença de que ele é, em essência, a coisa...
Nessa lógica, a “cidadania” ainda será acusada de crime contra o patrimônio se realizar qualquer crítica a um tradicionalista (em essência, a coisa imaterial), protestar contra seus hábitos de estercar as cidades nos meses de setembro; espancar animais nos rodeios; ou o poder público ficará impossibilitado de realizar alguma reforma urbana porque em determinado lugar existe um galpão com uma placa tosca na fachada escrito CTG, cujas atividades são de duvidoso interesse público.
Passando à imaterialidade, só falta agora o tradicionalismo almejar ser o espírito do rio-grandense.
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"Infelizmente hoje ler um livro parece, para alguns, significar "folclorista"... instruir um grupo de danças significa "professor"... usar uma bombacha significa "gaúcho"... Comprar um cavalo significa "campeiro"... ser conselheiro de um "movimento" - estanque e ditador - significa "mantenedor da cultura"... e tudo isso chama de "tradicionalismo"! Meus pesar, pois não é esta a visão que pregaram e que idealizaram da coisa. E longe disso é o que passarei adiante com o pouco que tenho a ensinar. A vaidade e a cobiça "material" em cima do imaterial prevalece, usando nomes de grandes para ganhar espaços temporários ena grandeza de um mundo silmples e sem complexidade... um mundo de terra e alma. Os criadores do movimento - verdadeiro - merecem mais respeito... e o homem rural não se vê nos olhos dessa gente, dita "gaúcha"!!! ... felizmente!!!"
(Diego Müller)
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"Tenho visto surgir, por vezes, "mecenas crioulos" que não sabem "o sol que anuncia a seca", "o pasto que faz mal", que "ovelha não é pra mato", deitando regras sobre a criação! Tem gente que só enxerga como culatra de carreta. Não adianta... Isto é folclore de campanha, mas não é para recavem acomodado em cadeira de veludo, sem identidade rurícula, cujo filosofar só parece em tripa de linguiça: ...cheia de ar! O melhor mesmo é abrir a porteira e deixar sair campo afora, de cola erguida, e que se percam sozinhos pelo pampa, engolidos por algum barrocal. Este movimento é irreversivel, vem de baixo para cima... da alma nativa do povo. Não agüenta tampão deste ou daquele pretenso bostejador sapiente!"
 (João Carlos Paixão Côrtes)

É verdade Companheiro
Te digo sem heresia,
Tem tanto joelheiro falso
Vendendo quinquilharia...
Gente que em cultura gaúcha
Só empurra pirataria,
Não estuda e não pesquisa
Sempre envolta em fantasia...
Meus louvores ao Paixão Côrtes
Orgulho, da nossa cria,
Que não pactua com esses venais
Que sofrem de egolatria
E cavalo só conhecem
Através de fotografia!
E como tem no nosso meio artístico empulhador e bobo alegre travestido de centauro descartável.
O Mestre Paixão é realmente um monumento vivo!
(José João Smapaio da Silva)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Música missioneira...


Noel Guarany!!!

 



PROCURA-SE...

Procura-se um meio de mobilizar as massas para aprenderem a compeender a mensagem do amor, do ódio e de fraternidade, de quem com seu humilde instrumento musical anda a clamar. - amor pela terra, para que a tratem bem. - Odió para aqueles que desrespeitosamente desprezam as humildes mas sinceras manifestações líricas da poesia voltada ao terrunho. - Freternidade para aqueles que, feudalisticamente, às custas da política, quiseram nos dividir... Mas tudo foi infrutífero, porque jamais irão estancar a cultura das nossas fronteiras. Somente com a vontade maquiavélica dos colonizadores culturais, que, desrespeitosamente buscam descaracterizá-la. Mas nós, os payadores da américa, com a guitarra na mão, não deixamos sucumbir, pois a soma traduz seis letras importantissimas: PÁTRIA! "...Assim queremos a pátria, andar por trilhas singelas. Pátria não é sociedade, são ânsias verde-amarelas. Queremo-la una e liberta, sem bichos e sem mazelas!"
Carinhosamente, NOEL GUARANY!

Noel Guarany
(Bossoroca, 26 de dezembro de 1941 - Santa Maria, 6 de outubro de 1998)
 
 
 
 
"Eu não sou cantor mitológico, eu existo. Eu vivo pelas pulperías. Eu não canto no Maracanãzinho por 50 milhões de dólares. Me sobre o puchero, e por ai vou andando — com minhas opiniões, claro! Eu não tenho compromisso com doutores, MTGs, governadores, deputados... Eu estou descrevendo uma realidade nua e crua. Claro que vai doer em alguém, mas vai servir de alento para muitas almas sofredoras que como eu andam por aí vendo essas barbaridades. Eu não quero ser artista, nem coisa nenhuma."
(Noel Guarany)
 
 
Perguntem no Rio Grande do Sul por Noel Guarany (1941-1998), autor dessas palavras — proferidas num show realizado no final dos anos 70 , e a resposta, muito provavelmente, virá em tom de reverência. Afinal, estamos falando de um dos maiores nomes da cultura popular do estado, um dos quatro troncos missioneiros.
Cenário da epopéia da primeira república rio-grandense — a Guarani -, berço da história do estado, a área dos Sete Povos das Missões abriga uma tradição combativa e libertária análoga — para citar um exemplo — à de Ouro Preto, em Minas Gerais. Num lugar como noutro, está ainda presente até no ar que se respira o inconformismo diante da derrota de rebeliões contra o colonialismo.
Nascido em Bossoroca — à época distrito de São Luiz Gonzaga -, Noel aprendeu cedo a orgulhar-se desta herança. Este orgulho inscreveria no próprio nome, numa demonstração de sua escolha sobre de que lado iria ficar durante a vida: nascido Noel Borges do Canto Fabrício da Silva, poderia exibir o sobrenome de José Borges do Canto, comandante das tropas portuguesas que conquistaram em definitivo o território missioneiro. Mas preferiu evocar a porção de sangue índio que levava nas veias e chamar-se Noel Guarany.
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Noel Guarany era descendente de italianos e índios guaranis, e nasceu em 26 de dezembro de 1941, na Bossoroca, então um distrito de São Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul.
Na adolescência, aprendeu, de maneira autodidata, o idioma guarani, bem como a compor, tocar e cantar.
Na década de 1960 percorreu diversos países latino-americanos, onde colheu diversos ensinamentos que utilizou como subsídio para criação de suas músicas durante toda a sua futura carreira.
No final da década, apresentou alguns programas radiofônicos nas rádios de Cerro Largo e São Luiz Gonzaga, bem como nas rádios Gaúcha e Guaíba de Porto Alegre, RS.
Em 1970, lançou, em conjunto com Cenair Maicá, com o qual vinha se apresentando pelo Rio Grande do Sul e em festivais na Argentina, um compacto simples, com as músicas Filosofia de Gaudério e Romance do Pala Velho.
No ano seguinte, grava o seu primeiro LP, Legendas Missioneiras, pela gravadora RGE, que traz, entre outras, parcerias com Jayme Caetano Braun, Glênio Fagundes e Aureliano de Figueiredo Pinto. Neste disco, além das músicas constantes do compacto anterior, estão presentes outras pérolas de seu repertório, como Fandango na Fronteira, Gaudério e Eu e o Rio.
Em 1973 sai Destino Missioneiro, pela gravadora Phonogram/Sinter, no qual repete algumas das parcerias do disco anterior, bem como traz composições próprias e de Barbosa Lessa e uma parceria com Aparício Silva Rillo. Neste disco, estão presentes grandes músicas como Destino Missioneiro e Destino de Peão. Nesta época, ainda em tempos da ditadura militar, passa a ser perseguido em alguns shows devido a suas convicções democráticas e libertárias, conforme registra ao vivo nesse álbum.

Seu terceiro LP é Sem Fronteiras, lançado em 1975 pela EMI/Odeon, que está repleto de músicas que acabaram se tornando clássicos do cancioneiro gaúcho, como Romance do Pala Velho, Potro Sem Dono (de Paulo Portela Fagundes), Filosofia de Gaudério, Balseiros do Rio Uruguai (de Barbosa Lessa), Décima do Potro Baio e Chamarrita sem Fronteira (as duas últimas, temas missioneiros recolhidos e adaptados por Noel Guarany), entre outras.
No ano de 1976, Noel Guarany grava em parceria com Jayme Caetano Braun, de maneira independente, o LP Payador, Pampa, Guitarra. Gravado parte na Argentina e parte em São Paulo, o disco conta com a participação de grandes músicos argentinos.
Em 1977 a RGE relança o disco Legendas Missioneiras, de 1971, com o título de Canto da Fronteira.
Em 1978 sai o LP Noel Guarany Canta Aureliano de Figueiredo Pinto, pela RGE, que resgata a obra e a memória de um dos grandes poetas do regionalismo gaúcho.

No ano seguinte, sai o disco De Pulperias, ainda pela gravadora RGE. Constam deste disco as músicas En el rancho y la cambicha, Rio de Los Pajaros e Milonga del peón de campo, de Mario Millan Medina, Anibal Sampayo e Atahualpa Yupanqui, respectivamente.
Em 1980 sai Alma, Garra e Melodia, em que se destacam as músicas Maneco Queixo de Ferro e Índia cruda. Neste mesmo ano ocorre o show no Cinema Glória, na cidade de Santa Maria, que mais tarde, em 2003, viria a se tornar o disco Destino Missioneiro - Show Inédito.
No ano de 1982, é lançado o LP Para o Que Olha Sem Ver, pela RGE, título que remete à música Para el que mira sin ver de autoria do cantor e poeta argentino Atahualpa Yupanqui (presente também na composição Los ejes de mi carreta). Além das citadas, estão presentes as músicas Boi Preto, Na Baixada do Manduca e Adeus Morena, músicas de inspiração folclórica. De se destacar, também, quatro composições de João Sampaio.
Neste ponto, Noel Guarany, já com os primeiros sintomas da doença, começou a afastar-se dos palcos, e acabou redigindo uma carta aberta à imprensa, na qual reclama do tratamento recebido pela gravadora.
Em 1985 retira-se definitivamente dos palcos, em cumprimento ao prometido na carta de 1983.
No ano de 1988, em conjunto com Jorge Guedes (úncio herdeiro de sua autenticidade e musicalidade) e João Máximo, lança o disco A Volta do Missioneiro. E a posterior, juntamente com Pedro Ortaça, Cenair Maicá e Jayme caetano Braun, lançam Troncos Missioneiros.
Nos próximos 10 anos, o grande gaúcho, cada vez mais debilitado por uma doença degenerativa no cérebro, permaneceu recolhido em seu sítio na localidade de Vila Santos, no município de Santa Maria.
Morreu no dia 6 de outubro de 1998, na Casa de Saúde de Santa Maria, tendo sido enterrado em Bossoroca, sua terra natal.
 
 
PEREGRINO DOS CAMINHOS
Ainda adolescente, aprendeu, sem professor, o idioma guarani e o manejo do violão. "Eu saía a percorrer estância por estância. Nessa época não havia televisão, apenas alguns rádios e tal era a alegria do povo, com a minha chegada, que logo carneavam uma vaca e largavam um "próprio" (mensageiro) à vizinhança, avisar que eu havia chegado, que viessem conhecer o violonista e já estava formado o baile. Aí eu amanhecia tocando para o povo dançar" — recorda em um depoimento reproduzido no sitio que o professor Cláudio Augusto Probst organizou em sua homenagem (www.probst.pro.br). Nesta época, no entanto, "não estava ainda definida a música missioneira", como salienta Noel no mesmo depoimento.
Aos 19 anos, foi servir o Exército no 3º Regimento de Cavalaria, em São Luiz Gonzaga. Ali, presenciou a conduta desonrada de altos oficiais, o que foi para ele um choque. "Não podia acreditar que militares graduados também roubassem. Aprendi mais tarde que o roubo e a corrupção foram os maiores amigos das ditaduras militares" — recordaria já maduro.
A decisão de abandonar a caserna foi capital para que Noel Fabrício pudesse se tornar Noel Guarany. Uma vez concretizada, ele cruzou a fronteira da Argentina. Radicou-se na província de Corrientes, onde trabalhou como lenhador e balseiro. Durante a década de 1960, andou pela também província de Misiones, assim como pelo Paraguai, Uruguai, Mato Grosso e Bolívia. Peregrino dos caminhos / no rumo dos horizontes,/ matando a sede da terra,/ vivendo a sede de andar, cantaria depois em Eu e o Rio, composta em parceria com Glênio Fagundes.
Convivendo e compartilhando o duro cotidiano com a gente simples do povo de todos esses lugares (ervateiros, balseiros, índios), Noel observou sua linguagem, sua musicalidade e suas formas de expressão. Retratou a vida dessas pessoas em canções como Lavadeira do Uruguai, composta em parceria com João Sampaio da Silva:
 
 
Ajoelhada junto ao rio,
a cantar com a correnteza,
lavando suores profanos
dos ricos da redondeza,
vê o lombo do dourado
que falta na sua mesa.
"CANTAR MINHA TERRA"!!!
 
 
 
 
"Parecia-me um castigo quando nos rancherios mais humildes, fosse do país que fosse, com olhar sincero de patriotismo, um campesino, mesmo abandonado, pelos governos e instituições, dizia ao empunhar qualquer instrumento: "vou cantar uma canção de minha terra" — recordaria, lembrando o contraste entre os níveis de consciência nos países vizinhos e no Brasil. "Era um verdadeiro absurdo falar em arte missioneira naquela época" — diz em outra entrevista reproduzida no sitio de Probst, em que afirma, sem nenhuma modéstia, mas de posse da verdade, que teve que incutir na cabeça de intelectuais este conceito.
Naquele tempo, a identidade cultural riograndense encontrava-se em processo de reformulação, mercê da crise e das mudanças estruturais por que passava o estado. A partir da década de 40, deflagrou-se um movimento espontâneo de valorização do "ser gaúcho", mas tendo como paradigma o homem da Fronteira Sudoeste.
 
 
 
 
Na música, a confusão era ainda maior: o que fazia sucesso no estado e era apresentado como "gaúcho", nos anos 50 e 60, era a produção de artistas como Teixeirinha e os irmãos Bertussi, água com açúcar na forma e no conteúdo, "totalmente inautêntica" na definição do próprio Noel. Além disso — recordou -, crescia o poder da indústria fonográfica originária do USA e sediada no Rio e em São Paulo, "o rádio vivia a martelar alienações desleais ao povo sul-americano". Contra esta situação, Noel Guarany insurgiu-se, erguendo aquela que, desde o retorno ao Brasil, soube sem sombra de dúvidas que seria sua bandeira: "cantar a minha terra", em suas próprias palavras.
 
 
 
 
O resgate e redefinição da identidade missioneira a partir dos anos 60 é um dos episódios mais interessantes da cultura brasileira, não apenas por sua importância mas pela forma como se deu: espontaneamente, desde o seio do povo e totalmente à margem dos âmbitos letrados. Imprensa e universidade só vieram a dar-se conta de fenômeno depois que ele já havia ocorrido. Seus artífices foram artistas populares dotados de consciência, como Noel e seus parceiros — todos homens de sólida cultura, mas todos autodidatas.
 
 
PAMPA SEM FRONTEIRAS
 
 
Enquanto os primeiros pretendem que a lusofonia seja elemento definidor do ser gaúcho e denunciam como alienígena tudo o que venha da Argentina ou do Uruguai, os segundos falam em "três pátrias gaúchas" (Brasil, Argentina e Uruguai) ou "quatro pátrias missioneiras" (que inclui o Paraguai). A castelhanofobia é mais forte na fronteira do Uruguai, cuja história é marcada pelo enfrentamento militar com os países platinos; o pan-gauchismo predomina entre os missioneiros, que surgem da luta dos índios guaranis, primeiro contra os portugueses e logo contra os espanhóis — e também da mistura com ambos.
A castelhanofobia não apenas é intrinsecamente reacionária em virtude de sua pretensão de congelar a história e a cultura; a escolha da imagem do homem da fronteira sudoeste como paradigma do gaúcho liga-se frequentemente à glorificação do latifúndio. Já o pan-gauchismo é geralmente progressista. Primeiro, por preconizar a união e a solidariedade entre povos irmãos, formando um (ou uma, já que em espanhol a palavra é feminina) pampa sem fronteiras. E segundo porque, principalmente em sua versão missioneira, não compartilha a exaltação da grande propriedade rural. Muito pelo contrário: a destruição das Missões pelos portugueses significou a destruição do sistema de produção coletiva dos índios e sua transformação em párias sem terra, trauma histórico que ainda persiste. Noel colocaria sua voz a serviço deste sentimento em Precedência:
 
 
Talvez, paisano, o meu verso
em muito te desagrade.
É que a tua propriedade,
as Sesmarias D'el Rey",
meus bisavós não venderam,
são terras que nunca dei.
 
 
 
 
O que Jayme Caetano Braun fez na poesia, com versos em espanhol e tratando de temas da história e da cultura da Argentina e do Uruguai (ver AND 27), Noel fez na música ao trazer para cá ritmos que ouviu na Argentina e no Paraguai. Tinha enorme admiração por músicos dos países vizinhos, como Atahualpa Yupanqui, Antonio Tarragó Ros e Mario Millán Medina. Sua visão da identidade gaúcha não cabia na estreiteza dos burocratas: definia-se como gaúcho e paralelamente como missioneiro, como brasileiro e também como latino-americano. Em Defeito, sintetizaria esta pluralidade:
 
 
Regionalismo não falo,
só em termos continentinos:
de oceano prá oceano,
do Caribe ao Muro Andino,
meu povo só tem fronteiras
marcadas pelo destino.
 
 
POPULAR AUTÊNTICO
 
 
Conta-se (ninguém sabe se é verdade ou lenda) que um dirigente do MTG, ao visitar o galpão crioulo que Noel mantinha em Itaqui, pediu para falar com o patrão, ao que o cantor teria respondido: "Aqui não tem patrão, e se tiver, eu mato". No entanto, eram boas suas relações com um dos fundadores do movimento, Barbosa Lessa, de quem musicou poemas. É de Lessa a melhor definição de Noel Guarany, escrita na capa do disco Destino Missioneiro, de 1973: "autêntico como cantor e como gente".
Justamente por essa rara autenticidade, viria a desentender-se — sempre com razão — com muita gente. Por exemplo, com a indústria fonográfica monopolista. Rompeu publicamente com as gravadoras RCA, RGE e EMI, que negligenciavam a divulgação de seus discos e não lhe repassavam o dinheiro referente aos direitos autorais, além de não adotarem os cuidados técnicos necessários, por exemplo na prensagem dos LPs. Vários de seus discos foram lançados por selos independentes — caso dePayador, Pampa, Guitarra gravado em parceria com Jayme Caetano Braun e lançado em 1976, um divisor de águas na música riograndense.
Eram igualmente péssimas suas relações com os burocratas da Ordem dos Músicos, que chegou a fustigar publicamente em suas apresentações.
Quem viu Noel Guarany no palco, aliás, conta que o que ele dizia no intervalo entre uma música e outra era um caso à parte: abria a boca para falar de tudo que estava errado. Frequentemente desancava a gerência militar, levando ao êxtase a platéia — muitas vezes composta por estudantes para os quais cantava sem cobrar. Milico na minha frente/ não passa sem ser notado, cantou em Chamarrita de Galpão.
Há uma gravação de um show realizado em 1979, no CD Destino Missioneiro, que recupera alguns desses momentos. Entre uma música e outra, Noel diz, por exemplo:
Eu tentei me solidarizar com os grevistas (refere-se a uma greve de metalúrgicos), tal como fiz aqui com os bancários, mas lembrei que aqui ainda eu consigo alguma coisa e que em São Paulo ou Rio de Janeiro eu sou visado. Chico Buarque quis cantar, não deixaram. E eu, pior ainda, porque eles pensam que o gaúcho é mais valente que os outros.
O aspecto propriamente musical de suas apresentações não era menos autêntico. Noel apresentava-se munido apenas da voz forte e do violão que sabia tocar magistralmente. Gostava de dizer que a música gaúcha começou a decair depois da introdução do primeiro instrumento alienígena: a gaita 3. Era, evidentemente, uma hipérbole: em Payador, Pampa, Guitarra deixou-se acompanhar pelo bandoneón de Raulito Barbosa.
 
 
VIDA BREVE
 
 
A carreira de Noel Guarany durou pouco. Mas os três lustros transcorridos de 1970 — quando venceu o VII Festival do Folclore Correntino ao lado de Cenair Maicá com a música Fandango na Fronteira em Santo Tomé, na Argentina — 1985 — quando deixou os palcos em protesto contra o tratamento dispensado pelas grandes gravadoras e pelo poder público à classe dos artistas -, foram suficientes para que ele mudasse para sempre a história da música no Rio Grande do Sul.
Ainda ensaiaria um retorno em 1988, com o lançamento dos discos A Volta do Missioneiro e Troncos Missioneiros, este com Jayme, Cenair e Pedro Ortaça, e algumas apresentações. Mas uma doença degenerativa do sistema nervoso já o consumia de maneira irreversível. Passou os últimos anos recolhido em sua casa, em Santa Maria, muito debilitado e com alguns poucos lampejos de lucidez.
Em abril de 1994, o jornal O Desgarrado, de Santa Cruz do Sul, foi visitá-lo. Foi a última vez que recebeu a imprensa antes passar à eternidade, o que ocorreria quatro anos depois. Já não conseguia articular idéias e responder às perguntas. Em sua memória, só restava nítida a lembrança dos amigos: Cenair, Jayme, Ortaça, Atahualpa Yupanqui e o uruguaio Aníbal Sampayo — e de como, em suas próprias palavras, "gostava de ser cantor"...
 
 
Discografia
Compactos
 
 
2003 - Destino Missioneiro - Show Inédito

Com licença,meus senhores vai cantar um missioneiro com manhas de literato e o tino de bom fronteiro... Total, não há melhor sorte do que nascer guitarreiro. Me desculpem meus senhores esta audácia missioneira, se o ventre da minha guitarra fecunda notas campeiras... Total,cantava sozinho pras estrelas caminheiras. Me perdoem meus senhores meu saber pequenininho, a pampa,apesar de grande, me ensinou a viver sozinho... Se a pampa por entre flores tem tacurú nos caminhos. Me faço de chancho rengo no meio da sociedade, já não sofro mais com os outros hoje entndo a humanidade... Total,por ser guitarreiro aprendi barbaridade. Com licença, meus senhores, vou terminando a payada, cantando sou perigoso porque a verdade me agrada...
E é melhor ser guitarreiro do que ser pouco ou ser nada!
(Noel Guarany - Total)


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" Um payador que se preza mesmo rodando não cai, recorre a vida cantando aos pés do Eterno Pai, e depois volta de novo, cantar pra o povo e se vai! "
(Noel Guarany)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O PEDRO PAMPA...


...A CIGANA & O TOURO JAGUANÉ!


(Conto crioulo rimado)

O Pedro Pampa era um taura
Cria da Estância Querência
Que se arranchou no Bororé.
Tinha um campito pequeno
Uma ponta de gado bueno
E um touro brabo jaguané...

Tinha um parelheiro amilhado
Um preparo forte de doze
Num mouro que era um regalo.
De rédea,era uma balança
De cacho atado em três tranças
Lá em riba onde canta o galo.

Amigado com a Formosina
Uma bororeana de lei
Das que vem pela fumaça.
Tinha dois gêmeos muchachos
Dois rapazotes bem machos
No ponto de sentar praça.

 Viviam na santa paz
Toureando a vida de frente
Na mais crioula honradez.
E só se apartavam dali
Pra irem de trem no Itaqui
Fazer o rancho do mês.

 Ficavam os gêmeos no campo
Cuidando da criação
Como campeiros de fato.
Herdaram do pai os cacoetes
E a fama de bons ginetes
Pois eram dois carrapatos!

 Foi bem na entrada do inverno
Que o Pedro Pampa e a mulher
Foram de trem pra Itaqui.
Comprar um sortido macota
Um poncho e um par de botas
Pra cada um dos guris.

Por conta de uma consulta
Perderam o trem de volta
E se viram na obrigação.
De pernoitarem num quartinho
Na Pensão do seu Antoninho
Que era em frente da Estação...

 Enquanto a mulher descansava
Pedro Pampa mateava solito
Na salita da pensão.
Quando avistou uma cigana
Com um olhar de cobra insana
Pra embuçalar um cristão!

 A cigana,sorra mansa
Em cujo olhar aragano
 Pairava um estranho brilho.
Agarrou o Pedro da mão
E disse de supetão:
“Deixa eu ler tua sorte filho...”

 O taura ainda quis corcovear
Pois não gostava de lorota
De adivinhação e trampa.
Mas a cigana calavera
Com aquele olhar de cruzeira
Se adonou do Pedro Pampa.


“Meu filho larga essa cuia
E abre bem tua mão canhota
Do lado do coração.”
De repente muda e franca
A cigana ficou branca
E “quaje”caiu no chão...

 “Proguntou”ao Pedro Pampa
Se ele tinha um touro brabo
Do pêlo mais lindo que há.
Respondeu que sim,já aflito
E ela disse:”Aqui’ tá’ escrito
Que o touro vai te ‘matá’.!”

 “Que desgraça...rico filho”
Disse a cigana tremendo
E repetia alucinada.
Gaguejando,quase aos gritos:
“Ninguém muda o que está escrito
Eu nem vou te cobrar nada!”

 Pedro Pampa era um taura
Que nas rodadas da vida
Sempre correndo saiu.
Trabuzana de alma boa
Não contou nada a patroa
E nessa noite não dormiu...

 Voltaram no outro dia
De trem para o Bororé
A vida seguiu em frente.
O Pedro não campereava
Mateava quieto e pitava
Cada vez mais diferente...

 Até que uma manhã cedo
Só os dois na beira do fogo
Passado mais de semana.
Num repente...de...relancina
Ele contou pra sua china
A previsão da cigana...

 A chinoca era ventena
Sabia tudo da vida
Mulher guapa e caborteira.
Disse ao Pedro,sem agouro:
“Amanha ‘carneamo’ o touro
E tu nem vai lá na mangueira!”

 A Formosina e os gêmeos
Cedito encerraram o gado
A grito cusco e laçaço.
O touro, soltando fumaça
Com as aspas de “quaje” braça
Saiu do tronco no laço!

 Um dos gêmeos devereda
Passou o laço num “cinamono”
Como seu pai lhe ensinou.
O outro,botou numa pata
E a Formosina mulata
Veio correndo e sangrou!

 Estava o touro desmanchado
O couro de carnal pra riba
E a cuscada em escarcéu.
N’outra ponta a cabeça parada
Co’as aspas,lanças afiadas
Como que olhando pro céu...

 Foi só então que o Pedro Pampa
Deixou por fim o galpão
E se veio com ar de graça.
Pegar as guampas do touro
Pra dois borrachões de estouro
Bem lotados de cachaça!

 Foi quando a patroa e os gêmeos
Lidando com a carne do touro
Num varal sobre a ramada.
Viram o Pedro barbaresco
Resbalar no couro fresco
E se espetar numa aspa afiada...
.................................................
..............................................

No campo santo do Bororé
A direita de quem entra
Como uma estaca reluz.
Num cerne de coronilha
As saudades da família
Nos dizeres de uma cruz:

Aqui jaz o Pedro Pampa
Um gauchão do Bororé
Que foi tropear no infinito.
Com sua estampa paisana
Pois como disse a cigana:
“Ninguém muda o que está escrito!”

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(Touro fumaça - João Sampaio e Mano Lima)

(Eleodoro Marenco)

"É pra lá de macanudo e talentoso pra juntar as palavras esse tal de João Sampaio, amigo de quatro costados! ...quanto à parte que me toca - te tiro o chapéu, vivente!
O João Sampaio é o segundo Jayme Caetano Braun!..."
(José Fogaça)


Baile a moda antiga - 5 de nov...

Reserve esta data:

 No dia 05 de Novembro de 2011,
VIII BAILE À MODA ANTIGA DO BRAZÃO!

Para dançar plenamente, como eram os bailes de antigamente, sem a pressão das disputas!
Divulgue aos seus amigos, e compareça! Esperamos por todos vocês!

Vamos lotar a nossa casa novamente para reencontrar os amigos e mais verdadeira tradição gaúcha, fazendo juntos uma grande festa!

(Em breve, maiores informações sobre alojamentos, entre outros.)

* ATRAÇÕES: Músicas antigas de fandango/Danças do folclore gaúcho/Premio para o chuliador mais popular/Premios para as melhores indumentárias/Rifas/E muito mais!!

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 O Centro de Tradições Gaúchas Brazão do Rio Grande, foi formado por um grupo de tradicionalistas, associado à Congregação das Famílias e Amigos da Chácara Barreto, na cidade de Canoas, com o intuito de promover a verdadeira cultura rural do nosso estado dentro de uma grande cidade em crescimento. O mesmo funcionou desde a data de sua constituição, em 15 de agosto de 1964, até 04 de junho de 1965, como departamento tradicionalista daquela entidade.

Após o desligamento, ainda se reunindo, no dia 17 do mesmo mês e ano fundaram o que hoje se constitui nossa grandiosa entidade, mantendo o mesmo nome do período da Congregação.
As cores escolhidas foram: o amarelo, o verde, o vermelho e o preto, sendo o lema, "Pelo pampa gaúcho, sempre agüentando o repuxo", como sugestão de Olímpio Giussane.

A construção do "Galpão Abílio Alfredo Ely" levou anos, tendo enfim sua inauguração em 17 de junho de 1969, no quarto ano de sua existência. Na madrugada de 31 de janeiro de 75, um violento incêndio destruiu o mesmo Galpão Sede, transformando em cinzas todo o esforço desenvolvido pela família “brazonense”. Após muito trabalho e abnegação, um novo galpão foi inaugurado em 13 de junho de 1982, o que nos abriga calorosamente até hoje.

Nestes mais de trinta anos, buscamos salientar as danças e as manifestações folclóricas dentro do contexto da tradição gaúcha. Já coroamos este item em várias ocasiões, entre quatro décadas de lutas e de glorias:

* O Tri–Campeonato de danças é um exemplo: O Brazão conquistou por três vezes consecutivas a premiação maior no Festival de Danças e Folclore Gaúcho – Antigo MOBRAL, em 77, 78 e 79, evento precursor do ENART e do FEGART, onde em 1993 novamente fomos congratulados com o 3º lugar.

* Com estas conquistas, em 1980, o Brazão presenteou a todos com uma brilhante apresentação ao Papa João Paulo II, na sua única vinda a Porto Alegre e ao RS, tendo sua trajetória abençoada pelo santíssimo Padre.

* A participação no 2º Festival de Danças Gaúchas de Raízes Açorianas, ocorrido em 1992, na cidade de Osório, é outro exemplo: nos proporcionando a ida ao Festival Internacional de Danças de Raízes Açorianas, no Arquipélago de Açores, em Portugal, o que foi feito com dignidade e brilhantismo.

* Em dezembro de 1998, outra pioneira conquista: No Rodeio de Antonio Prado, o título de Campeão de Danças Birivas do Tropeirismo Gaúcho, de forma inédita, por sua primeira vez ocorrida num Festival de danças.

* Em 2010, a entidade alcançou o bicampeonato do Rodeio Internacional de Vacaria. Feito inédito na cidade de Canoas e região!

Em julho de 1991, foi realizado em Canoas, através do nosso CTG, o I Curso de Atualização Musi-Coreográfica, ministrado pelo mestre Paixão Cortes, e em maio de 1993, conjuntamente com outros CTGs, em Porto Alegre, outro II Curso, os quais foram importantes para uma tomada de posição acerca dos temas coreográficos e com relação ao vestuário campechano.

O 1º Encontro Cultural-Artístico de Chirus, na década de 90, foi uma idéia inédita do nosso CTG com nosso consagrado grupo veterano Os Caudilhos, quanto a confraternização tradicionalista entre grupos “seniors”, no intuito da amizade e do concurso sem preocupações maiores de premiações.