By JOÃO SAMPAIO - Itaqui/RS

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O PEDRO PAMPA...


...A CIGANA & O TOURO JAGUANÉ!


(Conto crioulo rimado)

O Pedro Pampa era um taura
Cria da Estância Querência
Que se arranchou no Bororé.
Tinha um campito pequeno
Uma ponta de gado bueno
E um touro brabo jaguané...

Tinha um parelheiro amilhado
Um preparo forte de doze
Num mouro que era um regalo.
De rédea,era uma balança
De cacho atado em três tranças
Lá em riba onde canta o galo.

Amigado com a Formosina
Uma bororeana de lei
Das que vem pela fumaça.
Tinha dois gêmeos muchachos
Dois rapazotes bem machos
No ponto de sentar praça.

 Viviam na santa paz
Toureando a vida de frente
Na mais crioula honradez.
E só se apartavam dali
Pra irem de trem no Itaqui
Fazer o rancho do mês.

 Ficavam os gêmeos no campo
Cuidando da criação
Como campeiros de fato.
Herdaram do pai os cacoetes
E a fama de bons ginetes
Pois eram dois carrapatos!

 Foi bem na entrada do inverno
Que o Pedro Pampa e a mulher
Foram de trem pra Itaqui.
Comprar um sortido macota
Um poncho e um par de botas
Pra cada um dos guris.

Por conta de uma consulta
Perderam o trem de volta
E se viram na obrigação.
De pernoitarem num quartinho
Na Pensão do seu Antoninho
Que era em frente da Estação...

 Enquanto a mulher descansava
Pedro Pampa mateava solito
Na salita da pensão.
Quando avistou uma cigana
Com um olhar de cobra insana
Pra embuçalar um cristão!

 A cigana,sorra mansa
Em cujo olhar aragano
 Pairava um estranho brilho.
Agarrou o Pedro da mão
E disse de supetão:
“Deixa eu ler tua sorte filho...”

 O taura ainda quis corcovear
Pois não gostava de lorota
De adivinhação e trampa.
Mas a cigana calavera
Com aquele olhar de cruzeira
Se adonou do Pedro Pampa.


“Meu filho larga essa cuia
E abre bem tua mão canhota
Do lado do coração.”
De repente muda e franca
A cigana ficou branca
E “quaje”caiu no chão...

 “Proguntou”ao Pedro Pampa
Se ele tinha um touro brabo
Do pêlo mais lindo que há.
Respondeu que sim,já aflito
E ela disse:”Aqui’ tá’ escrito
Que o touro vai te ‘matá’.!”

 “Que desgraça...rico filho”
Disse a cigana tremendo
E repetia alucinada.
Gaguejando,quase aos gritos:
“Ninguém muda o que está escrito
Eu nem vou te cobrar nada!”

 Pedro Pampa era um taura
Que nas rodadas da vida
Sempre correndo saiu.
Trabuzana de alma boa
Não contou nada a patroa
E nessa noite não dormiu...

 Voltaram no outro dia
De trem para o Bororé
A vida seguiu em frente.
O Pedro não campereava
Mateava quieto e pitava
Cada vez mais diferente...

 Até que uma manhã cedo
Só os dois na beira do fogo
Passado mais de semana.
Num repente...de...relancina
Ele contou pra sua china
A previsão da cigana...

 A chinoca era ventena
Sabia tudo da vida
Mulher guapa e caborteira.
Disse ao Pedro,sem agouro:
“Amanha ‘carneamo’ o touro
E tu nem vai lá na mangueira!”

 A Formosina e os gêmeos
Cedito encerraram o gado
A grito cusco e laçaço.
O touro, soltando fumaça
Com as aspas de “quaje” braça
Saiu do tronco no laço!

 Um dos gêmeos devereda
Passou o laço num “cinamono”
Como seu pai lhe ensinou.
O outro,botou numa pata
E a Formosina mulata
Veio correndo e sangrou!

 Estava o touro desmanchado
O couro de carnal pra riba
E a cuscada em escarcéu.
N’outra ponta a cabeça parada
Co’as aspas,lanças afiadas
Como que olhando pro céu...

 Foi só então que o Pedro Pampa
Deixou por fim o galpão
E se veio com ar de graça.
Pegar as guampas do touro
Pra dois borrachões de estouro
Bem lotados de cachaça!

 Foi quando a patroa e os gêmeos
Lidando com a carne do touro
Num varal sobre a ramada.
Viram o Pedro barbaresco
Resbalar no couro fresco
E se espetar numa aspa afiada...
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No campo santo do Bororé
A direita de quem entra
Como uma estaca reluz.
Num cerne de coronilha
As saudades da família
Nos dizeres de uma cruz:

Aqui jaz o Pedro Pampa
Um gauchão do Bororé
Que foi tropear no infinito.
Com sua estampa paisana
Pois como disse a cigana:
“Ninguém muda o que está escrito!”

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(Touro fumaça - João Sampaio e Mano Lima)

(Eleodoro Marenco)

"É pra lá de macanudo e talentoso pra juntar as palavras esse tal de João Sampaio, amigo de quatro costados! ...quanto à parte que me toca - te tiro o chapéu, vivente!
O João Sampaio é o segundo Jayme Caetano Braun!..."
(José Fogaça)


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